Clifford Geertz
propõe uma visão mais ampla de ser humano e de cultura, refutando a chamada concepção estratigráfica, substituindo-a por uma concepção sintética, "[...] na qual os
fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais possam ser tratados
como variáveis dentro dos sistemas unitários de análise" (1989, p. 56).
Daí sua expressão:
O homem não pode ser definido nem apenas por suas
habilidades inatas, como fazia o iluminismo, nem apenas por seu comportamento
real, como o faz grande parte da ciência social contemporânea, mas sim pelo elo
entre eles, pela forma em que o primeiro é transformado no segundo, suas
potencialidades genéricas focalizadas em suas atuações específicas [idem, p.
64].
LIVRO DE JOCIMAR DAOLIO
Foi nas obras de Elenor Kunz, Valter Bracht e Mauro Betti
que o ser humano foi considerado de forma mais ampla e mais dinâmica, assim
como a própria visão de educação física foi ampliada.
O processo partindo de uma concepção de ser motor, para se
chegar ao ser cultural, passando pelo ser psicológico e pelo ser social.
Entretanto, em vez de um modelo mais estanque de camadas incomunicáveis - como sugere Geertz quando critica a
concepção estratigráfica -, opto por um modelo mais dinâmico, procurando
apresentar de forma espiralada o próprio processo de debate no interior da
educação física. O formato em espiral permite sugerir, primeiro, que as
camadas se inter-relacionam e devem, necessariamente, se comunicar.
FORMA ESPIRALADA
Daolio acredita que a utilização de um conceito mais
simbólico de cultura corporal de movimento propiciará à educação física a
capacidade de convivência com a diversidade de manifestações corporais humanas
e o reconhecimento das diferenças a elas inerentes.
Daolio chega, assim, à proposta de uma educação física da
desordem, que não aceitaria a idéia de neutralidade científica e não recusaria
seu papel de intervenção na sociedade, mas teria o cuidado para, reconhecendo
as diferenças pessoais e culturais, não atropelar o processo de grupos com
outros tempos e outros valores políticos culturalmente definidos.
Enfim, a educação
física da desordem não se preocuparia em controlar ou domesticar objetivamente
elementos como o indivíduo, o tempo, o espaço, a história, o corpo, o
movimento, a sociedade, o desenvolvimento individual ou social, a cognição, a
emoção, os conteúdos escolares, o esporte etc. A educação física da desordem
pretenderia atuar sobre o ser humano no que concerne às suas manifestações
corporais eminentemente culturais, respeitando e assumindo que a dinâmica
cultural é simbólica e, por isso mesmo, variável, e que a mediação necessária
para essa intervenção é, necessariamente, intersubjetiva.
REFERÊNCIAS
DAOLIO,
Jocimar (1995). Da cultura do corpo. Campinas, Papirus.
DAOLIO,
Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores
Associados (Coleção polémicas do nosso tempo). 2004.
GEERTZ,
Clifford (1989). A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan.