A história do desporto
para as pessoas com deficiências começou na cidade de Aylesbury, Inglaterra. A
pedido do governo britânico, o neurologista Ludwig Guttmann criou o Centro
Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville, destinado a tratar
homens e mulheres do exército inglês feridos na Segunda Guerra Mundial.
O trabalho de
reabilitação buscou no esporte não só o valor terapêutico, mas o poder de
suscitar novas possibilidades, o que resultou em maior interação dessas
pessoas. Através do esporte “reabilitação” estava devolvendo à comunidade um
deficiente, capaz de ser “eficiente” pelo menos no esporte. Outra corrente,
vinda dos Estados Unidos, utiliza o enfoque esportivo como forma de inserção social,
dando a conotação competitiva utilizada pelo desporto.
Essas correntes, no
decorrer da história, cruzam-se formando objetivos comuns. Saindo do componente
médico-terapêutico, estendem se à incorporação da prática esportiva e do
desporto de rendimento, procurando integração do atleta e sua reabilitação
social. Embora já se promovessem atividades esportivas para pessoas com
deficiência, principalmente na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Alemanha.
Os Jogos Paralímpicos compreendem uma
competição internacional de estrutura e objetivo idênticos aos das Olimpíadas,
destinada a atletas com deficiências. Os Jogos
Paralímpicos aconteceram oficialmente em 1960 em Roma, sendo instituída pela
Organização Internacional de Esportes a realização dos Jogos Paraolímpicos após
a realização das Olimpíadas (Alencar, 1986). Das modalidades esportivas praticadas oficialmente por pessoas com
deficiência podemos citar: Arco e
flecha, Atletismo, Basquetebol sobre rodas, Bocha, Ciclismo, Equitação,
Esgrima, Futebol, Halterofilismo, Iatismo, Lawn Bowls,
Natação, Racquetball, Rugby em cadeira de rodas, Tênis de campo, Tênis de mesa,
Tiro ao alvo e Voleibol.
A participação de pessoas
com deficiências em eventos competitivos no Brasil e no mundo vem sendo
ampliada. Por ser um elemento ímpar no processo de reabilitação, as atividades
físicas e esportivas, competitivas ou não devem ser orientadas e estimuladas,
visando assim possibilitar aos deficientes, mesmo durante seu programa de
reabilitação alcanças os benefícios que estas atividades podem oferecer,
visando uma melhor qualidade de vida.
Souza (1994) enfatiza que
foi após a Segunda Guerra Mundial que a prática desportiva teve maior
incremento no contexto da prevenção e reabilitação. A partir daí, o esporte
para pessoas com deficiências físicas não parou de crescer e, desde 1960,
quando foram realizados os primeiros Jogos Paraolímpicos (paralelo aos Jogos
Olímpicos), aonde veio e vem se tornando cada vez mais popular. Porém, Brandão
(2003, p.7) coloca que “há deficiências que inibem a prática do desporto, ou
este pode até piorar a condição física do praticante. Mas a atividade física
vale-se do esporte como fator motivacional, tornando se atividade física
desportiva”.
A introdução das vivências dos Jogos
Paralímpicos e Adaptados, como processo metodológico, traz a possibilidade de
uma reflexão crítica sobre a realidade das pessoas com deficiências na
sociedade, por meio ao estímulo à Consciência Corporal dos alunos com
deficiência ou não. A escolha e vivência do tema Jogos Paralímpicos e Adaptados
nas interlocuções (aulas) de Educação Física possibilita aliar a teoria à
prática escolar de várias modalidades esportivas, oportunizando aos alunos
refletirem sobre as pessoas com deficiência na sociedade, onde se faz presente
à valorização do imaginário social e a questão do sentido da superação de
limites, através do esporte.
Com o Esporte Adaptado também se vê a
necessidade de despertar o olhar dos alunos para diferentes aprendizados e novas
experiências corporais conscientes e necessárias para a vida social, bem como
refletir a questão do preconceito com as pessoas que possuem deficiências no
esporte. Em relação à busca de experiências autônomas (CORREIA, 1996) diz que:
“Os adolescentes passam a ter possíveis
entendimentos sobre a realidade, ou seja, o conhecimento, fazendo com que o
aluno tenha uma experiência autônoma, que o faça exercitar uma reflexão crítica
e de decisão própria no processo educativo, adquirindo condições para viver uma
educação pela e para a cidadania”. (p. 43)
Nas ações pedagógicas por meio das
práticas, apostar em uma Educação Física diferenciada da tradicional, que vise
estimular, além das questões críticas dos alunos, o aprendizado não somente do
movimento ou gesto esportivo, mas também dos aspectos sociais e cognitivos.
Como proposta para a
motivação dos alunos e estratégia metodológica, a realização de um Evento
Paralímpico dentro da comunidade escolar, envolvendo todos os alunos,
professores e suas determinadas disciplinas. Considera-se positivo e
estimulante a vivência das modalidades Paralímpicas, bem como um trabalho
interdisciplinar, podendo proporcionar aos alunos um entendimento mais amplo
perante a temática.
Como planejamento fazer com que os
alunos, se coloquem no lugar de pessoas com deficiências, onde irão vivenciar a
Competição dos Jogos Paralímpicos, interagindo de forma que eles consigam ter a
consciência corporal de alteridade e de que todos nós somos diferentes. Para Freitas (1999), o corpo vivido é ao mesmo tempo
sentimento, movimento e pensamento. Com base na fala do autor se dá importância
para uma pessoa deficiente e seu se movimentar na sociedade e na escola,
compreendendo suas necessidades práticas.
Os
alunos poderão conhecer além da prática e regras das modalidades, a parte
histórica das Paralimpíadas, seus símbolos, possibilitando a construção de
materiais ligados ao tema e as modalidades, facilitando o aprendizado e
ampliando o conhecimento, não somente através da prática pela prática, mas sim
por outros mecanismos de aprendizagens.
Apesar de utilizar o Esporte Adaptado
propriamente dito, como ferramenta de ensino, a Educação Física trás consigo,
através da reflexão crítica, aspectos sociais como interação, respeito e
companheirismo que muitas vezes é frequente nas interlocuções desta disciplina.
Para Kunz,1994:
"O aluno enquanto sujeito do processo de
ensino deve ser capacitado para sua vida social, cultural e esportiva, o que
significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a
capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados
nesta vida através da reflexão crítica". (p. 31).
Como avaliação do Evento Paralímpico,
o professor poderá analisar se existiu ou não interesse dos alunos pelos Jogos,
bem como identificar as limitações e dificuldades, assim como as facilidades e
as experiências apresentadas pelos alunos no decorrer de cada interlocução,
dando aos alunos a oportunidade de relatar opiniões, ideias e exemplos.
A discussão sobre a Competição, o
Esporte Adaptado, a Inclusão e o Corpo ainda necessitam de maiores espaços. Os
alunos precisam ter esta oportunidade, cabe aos professores, efetivamente
acreditar nisto, oferecendo um novo espaço na escola para esta forma de pensar
e agir com o corpo, relacionando as práticas com a realidade em que vivem as
pessoas com deficiências na sociedade. Para KUNZ, 1994:
O profissional de Educação Física deve
auxiliar o aluno a melhor organizar e praticar o seu esporte, ou seja,
encená-lo de forma que dele possa participar com autonomia, mas é acima de tudo
uma reflexão crítica sobre todas as formas de encenação esportiva. (p. 73).
Diante
disto, os Jogos Paralímpicos, podem contribuir para que os alunos se coloquem
diante de papéis diferentes de seu contexto social, permitindo que reflitam
sobre as dificuldades das pessoas com deficiências na sociedade e suas
vivências corporais tanto no esporte quanto na realidade do dia-dia. Segundo
Kunz (2010) além das analises críticas que o esporte pode oferecer novas
temáticas também devem ser criadas, oportunizando os esportes de diferentes
formas.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, I. Educação Física e Portadores de Deficiências. Revista do Conselho Federal de Educação Física, Rio de Janeiro, ano II, n°. 8 p.8-12, Agosto, 2003.
CORREIA, W. R. – “Planejamento participativo e o ensino de Educação Física no 2º grau”. Revista Paulista de Educação Física, suplemento 2, 1996, p. 43-48.
FREITAS, G. G. O esquema corporal, a imagem
corporal, a consciência corporal e a corporeidade. Ijuí, RS:
Editora UNIJUÍ, 1999.
KUNZ, Elenor. Transformação Didático-pedagógica do Esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.
KUNZ,
Elenor. Transformação didático-
pedagógico do esporte. Ijuí: Unujuí, 2010.
SOUZA, P.
A. O Esporte na Paraplegia e Tetraplegia.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1994.